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CONSELHEIRO CRISPINIANO (2016)

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SINOPSE:

Um documentário sobre uma escola ocupada no centro de Guarulhos, Brasil. Os jovens tomam o poder do colégio, e descobrem que não se aprende somente numa sala de aula. Juntos desfrutam de uma escola livre.

FESTIVAIS E MOSTRAS

-  III Mostra de Cinema Desobediente (São Paulo)

-  Festival Mate com Angu de Cinema Popular 2016 (Duque de Caxias)

-  Mostra do Filme Livre 2017 (Rio de Janeiro e Belo Horizonte)

-  Equality Festival 2016 (Kiev)

-  Sankofa Film Festival 2016 (Minneapollis)

-  Mostra Curto Circuito 2017 (São Paulo)

-  Festival de Cinema Escola de Alvorada 2017

-  Fórum.doc BH.2017 (Belo Horizonte)

-  Cine Tamoio - Festival de Cinema de São Gonçalo 2018 (São Gonçalo)
-  Curta Suzano 2018 (Suzano) MENÇÃO HONROSA***
-  FEIA - Festival do Instituto de Artes da Unicamp 2018 (Campinas)

-  Metrô - Festival de Cinema Universitário 2018 (Curitiba)

-  VI Festival de Cinema de Itu (Itu)

ENSAIO SOBRE O FILME:

Com um público estimado de 25 pessoas, entre estudantes, convidados e professores, assistimos ao Conselheiro Crispiniano, 2016, dirigido por Yudji Oliveira que gentilmente autorizou a exibição.

Por ser um filme dentro de uma escola ocupada em Guarulhos, na grande São Paulo, que marca a relação entre um jovem estudante de cinema e os estudantes, o filme sensibilizou os espectadores que vivenciaram essa experiência recentemente, no final do ano de 2016.

Entre a experiência e a forma do filme, observou-se, nas cenas em que a câmera está na mão dos estudantes sobre skates, que o espaço ganhou novos pontos de vista, outra arquitetura. Os corredores, vistos por uma câmera subjetiva sobre rodas, ganharam perspectivas diversas da que usualmente se faz, no cotidiano escolar, ao caminhar nesses espaços. Uma sensação de liberdade, de transformar esses lugares de passagem em pistas de skate. A câmera nos permite com essas imagens, por vezes instáveis, sob o risco da queda, uma liberdade do olhar, que vaga junto a esses corpos. Os estudantes lembraram dos momentos em que andaram de bicicleta nos corredores da escola. Essa permissão de se apropriar do espaço, de vivencia-lo de outras maneiras.

A aposta do filme foi de registrar também os tempos fracos, sem uma narrativa que amarrasse essa experiência de forma conclusiva, embora o trabalho da montagem localize imagens exteriores e interiores, durante o dia e, sobretudo, à noite. Sabemos, pelas imagens, que se trata de uma escola e que ela está ocupada, o contexto político pelas cartelas iniciais, bem como quando a câmera vaga pelos cartazes e lê as urgências daquele gesto de resistência, apostando numa imersão quase que etnográfica daquele cotidiano reconfigurado.

Observou-se que a câmera, nos planos fixos, parece estar distanciada, como um olhar que observa, sem capturar necessariamente uma conversa ou uma fala em particular. Numa das cenas no refeitório, a câmera parece estar pousada sobre a mesa. Ocupando talvez o ponto de vista de quem está deitado sobre os braços, ouvindo algo importante colocado em discussão pelo grupo.

O posicionamento da câmera, que lembra o cinema direto, indica, talvez, a presença desse observador participante, uma vez que o realizador não é originariamente pertencente àquele espaço. Diferentemente de outros filmes realizados nas ocupações de escolas, este não pretendeu explicar, trazer à tona falas em formas de entrevistas que viessem a legitimar o movimento, por exemplo, como observou um dos espectadores/participante da oficina e que tem estudado o tema. Ao contrário, ele mergulha junto com os ocupantes nessa experiência ainda que temporária pelo cinema. Pois o movimento já está legitimado pela própria ação do corpos se manterem no espaço, criarem outra rotina e se manifestarem. Mesmo porque muito já se debateu em filmes sobre o tema. Essa aposta talvez apresente uma radicalidade em nos manter mais próximos da temporalidade dos gestos, das esperas, das trocas de olhares.

Uma das espectadoras, que viveu essa experiência na ocupação, ao se remeter a uma das cenas em que um jovem chama atenção dos demais em relação à limpeza, observa que eles passaram pela mesma situação, tendo que executar tarefas de limpeza e cobrar dos demais organização: “uma comida não volta sozinha para a geladeira” ou “o leite não é necessariamente no congelador”. São situações banais mas que denotam o trabalho da convivência e demonstram um aprendizado. Um dos espectadores que já passou por uma escola no Japão, disse que lá os estudantes fazem a limpeza e que não é uma questão fazer ou não, todos precisam executar as tarefas e naturalmente as fazem. Observando essa diferença de postura que apenas o aprendizado na ocupação proporcionou a eles.

Em resposta a uma pergunta sobre a relação deles, após a ocupação, com os funcionário da limpeza, se havia mudado alguma coisa, disseram: se antes as funcionárias eram inviabilizadas, passaram a ser reconhecidas pelo nome e os(as) estudantes se sentem acolhidos(as) por elas. Hoje há um cuidado e uma relação de solidariedade se estabeleceu pós-ocupação. É mais fácil utilizar a cozinha delas do que a dos professores.

Outra abordagem do filme é em relação à cozinha. Chamou atenção por ser uma tarefa tradicionalmente atribuída às mulheres, e, em Conselheiro Crispiniano, foram os homens que assumiram  essa tarefa e eram eles a reivindicar a limpeza da cozinha aos demais. O filme evidencia os cuidados que os jovens ocupantes tinham em relação ao espaço e ao outro. Desde a segurança, aquele que assume a tarefa de trancar o cadeado, passando pela comida, limpeza e vigilância. A juventude saiu vitoriosa ao reverter o fechamento de várias escolas do Estado de São Paulo ameaçadas de serem extintas. Mas mais do que isso, frente à repressão, algo da leveza reside naquelas imagens em que o político está também de alguma forma sobre rodas, na prancha do skate, produzindo sons com instrumentos ou na leitura de uma poesia por uma jovem, retirada do celular.

 

 

Participantes da Oficina presentes: Ana, Akira,  Gabi, Gustavo, Helder, Lúcia, Laura e Malu.

 

Mediação: Glaura.

 

Convidados: Luigi e Bruno (Cinefronteira).

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